27 de junho de 2012

A mercê das Bruxas


As atrizes estreiam com "Las Brujas de Salem", clássico de Arthur Miller, no Teatro Broadway. Uma proposta da época com temas atuais como a moral, o amor, a intolerância e a verdade. 

Há uma flor que Rita Cortese serve como uma metáfora para explicar o sentido político da peça Las Brujas de Salem, a estreia mais recente de Buenos Aires e que assume o desafio de trazer um clássico inspirado por uma história do século XVII e com 23 atores em cena no teatro comercial. Cortese diz que os budistas fazem uso da flor de lótus para discutir a natureza do ser humano, porque é uma planta que cresce do barro e ainda, suas pétalas são brancas e puras. "Em nós habita tudo: o muito baixo e muito alto. Isso é evidente nessa obra", diz a atriz de voz melancólica.

Levar Las brujas de Salem ao teatro envolve uma viajem ancestral: os atores devem passar para uma sociedade rural estadunidense em 1692 para contar a história de uma sociedade teocrática.

Por isso, enquanto Tiempo Argentino conversa con Rita Cortese, Julia Calvo e Lali Espósito, se acostumam a ver Roberto Carnaghi andar pelos corredores do Teatro Broadway vestindo uma batina marrom, ou Carlos Belloso passando com uns tenebrosos olhos artificiais celestes, enquanto faz piadas com os técnicos sobre a loucura de seu personagem.

Se trata da obra mais política e social de Arthur Miller, que escreveu em 1952. A cena transcorre em Salem, Massachusetts, onde vivia uma pequena comunidade dedicada ao serviço de Deus e ao cultivo da terra. Ali um grupo de jovens -inibidas e irritadas pela sufocante atmosfera em que a submetem os mais velhos- começam a dançar peladas nos bosques.

Uma delas, Abigail (Lali Espósito) faz uma maldição para que morra John Proctor (Juan Gil Navarro) um homem casado, de 40 anos, com quem ela perdeu sua virgindade. As meninas são descobertas e são descritas como bruxas, mas elas se justificam acusando outros vizinhos. Assim todas as pessoas são vítimas de uma história coletiva, onde começam a acusar inocentes.

-É um trabalho de uma grande implementação de recursos, personagens e locais. Como fizeram para reconstruir esse mundo?
Rita Cortese: "Nós olhamos muitas fotos e tivemos um historiador que nos colocou nesse contexto.
Julia Calvo: "Nos localizou na época e especificamente com o que foi a caça às bruxas. Nos aproximamos de um documento histórico que explica o que aconteceu com a vida de cada um desses personagens que existiram. Estas coisas não aparecem na obra de Miller.
Lali Esposito: "Para mim foi muito importante saber que Abigail termina assassinada aos seus 20 anos. Com esta informação, eu peguei mais carinho para fazer essa obra. Fez-me muito mais em alma em pena. Foi muito enriquecedor.
R.C: – Quando um aborda temas tão distantes, é fundamental se localizar na época, nesse contexto estadunidense em um povo que existiu e era habitada por ingleses.

- Como é o personagem de cada uma?
RC: - Minha personagem é inglesa e é um dos primeiros habitantes de Salem. O nome dela é Rebecca Nurse, tem mais de 60 anos e muitos filhos e netos. É uma das fundadoras de Salem e representante do bem puritano da época. Eu represento o bem de Deus, e eu digo este esclarecimento, porque eu acho que essa obra fala do bem e do mal. A peça é escrita numa sociedade estadunidense dos anos cinqüenta, que para mim é o oposto do que estamos vivenciando hoje na Argentina. Aqui não há presos políticos. Então, quando cada um fala de por que fazer essa obra hoje, como mostra o presente, a ideia de responsabilidade social é nossa, é do povo. Não é Deus. Eu acho que vale a pena dizer, porque é uma obra lábil para ele está deixando de ter um trabalho e pode ser mal interpretado. Aqui há uma acusação muito concreta. Minha personagem representa que nós temos responsabilidade do que fazemos, em vez de irmos buscar espíritos e fantasmas.
J.C: – Minha personagem é Tituba, uma mulher que vem de Barbados, é uma escrava que o reverendo Parris traz a Barbados, junto com seu marido. É uma mulher que faz feitiços, representa todos os saberes pagãos.
L.E: – Minha personagem tem 16 anos e parece que o real, o histórico, tinha 14 anos. Abigail tem um caso clandestino com Proctor. É interessante notar que ela não está sujeita a essa relação e que, na época, era comum para uma garota menor de idade ficar com um homem mais velho. A condenação aqui é que ele era um homem casado e com filhos. Se eu tivesse que definir, para mim ela é uma vítima dessa sociedade doente, que têm ideias erradas. Ela fica louca e chega ao fim da obra como chega. É a Madonna da época. Eu tenho a imagem que é uma alma perdida, em zancos.
R.C: –Abigail é a transgressão da época. É a que quebra de todas as regras do século XVII. Se apaixona e não reprime esse desejo. E ninguém o permitirá naquele momento, enquanto Proctor se enche de culpa e assim termina na forca. Há uma frase que parece fantástica e é: "Infeliz o país que precisa de heróis". Proctor é um herói trágico.

- Encontram referências da atualidade nessa obra?
L.E: – Eu poderia facilmente levar este povo para hoje. Embora os costumes e estilos de vida sejam diferentes, somos iguais a essa gente. Nós olhamos para nós mesmos antes do outro, há algo de egoísmo e individualismo, que fala da natureza humana e está presente hoje. A necessidade de acreditar em algo, como ele fere as pessoas em busca de uma ideologia, aqui você não poderia pensar diferente. As pessoas precisam acreditar em algo e estamos em 2012 e algumas coisas nunca mudam, porque está na essência do ser humano.
J.C: – De fato, vemos agora um retorno à espiritualidade, como uma moda que pode ser ligado ao que acontece na obra.
R.C: – Miller usa uma história concreta. Você pode contar Las brujas de Salem como se fosse uma grande novela, a história de um quarentão que apaixona por uma menina, porque ele realmente está apaixonado por essa adolescente. Ele é atravessado até o último momento pela paixão. E Miller aproveita esta história para discutir a política e ideológica em uma época concreta, que os anos 50 nos Estados Unidos, com o macartismo. Naquela época, Deus é posto de lado, hoje eu coloco Deus em mim mesma, porque acredito que somos sagrados, os seres humanos. Estamos longe desse Deus, que me incluo que incutiu uma escola do convento em que eu era parte e que eu fui expulsa. Eu quero reconhecer que somos deuses, temos esse poder. O próprio Jesus disse isso, que somos feitos da imagem e semelhança dele. Essa obra apresenta a mensagem que dizendo a verdade vai te matar. Me preocupa o que uma má interpretação possa fazer desse trabalho. Acredito que vai haver pessoas que utilizem a seu favor, mas não estamos vivendo em uma época de presos políticos, essa época já vivemos na ditadura. Mas eles podem dizer o que quiserem, de fato dizem o que querem.

Um fato real levado ao cinema por Miller

Las brujas de Salem é uma das obras mais importantes do teatro Arthur Miller. O autor norte-americano escolheu um fato real para fazer uma denúncia política ao que estava acontecendo em seu país no momento em que ele escreveu, ou seja, em 1952. A verdadeira história é baseada no que aconteceu em Salem, na primavera de 1692. Salem era um povo teocrático, isto é, uma associação do poder estatal e religioso cujo o papel era "manter a comunidade unida e evitar rachaduras que possam facilitar sua destruição nas mãos dos inimigos material ou ideológicos" segundo Miller.

Assim, o evento real de meninas que dançam peladas e foram acusadas de bruxarias, foi utilizado como pretexto para inciar perseguição política contra todos os que não respeitar fielmente o pensamento da Igreja. Esta perseguição, que terminou com vários mortos inocentes foi denominado de caça às bruxas. Diz Miller: "A caça às bruxas foi uma manifestação extrema do pânico que tomou conta de todas as classes sociais quando a balança começou a se inclinar em favor de maior liberdade pessoal".

Todos esses acontecimentos foram úteis para Miller para fazer uma denúncia política concreta no momento em que escreveu esta obra. O autor refere-se a "macartismo", um termo usado em referência às acusações de deslealdade, subversão ou traição ao pais sem o devido respeito pela evidência ou prova. Originou-se em um episódio da história dos Estados Unidos que se desenvolveu entre 1950 e 1956, durante o qual o senador Joseph McCarthy desencadeou um longo processo de denúncias, acusações, interrogatórios, processos irregulares e listas negras contra pessoas suspeitas de ser comunistas.

Miller apresentou essa obra como um apelo contra a intolerância e puritanismo. Miller também teve o cuidado de fazer uma versão cinematográfica de sua obra, que foi chamado de "El Crisol" que foi lançado em 1996, com as atuações de Daniel Day Lewis e Winona Rydere foi dirigido por Nicholas Hytner. Embora Miller sempre se recusou a trazer seus trabalhos para o cinema, para esta peça foi uma exceção. Diz o autor: "Me rendi a evidência de que sempre havia visto a história de 'Las Brujas de Salém' foi como uma sucessão de imagens que eu tinha que traduzir a linguagem do teatro. Foi uma aventura fora dos limites do palco e nas ruas de Salem".

"Las brujas de Salem" também foi adaptada para um filme de Jean Paul Sartre em 1957 e foi levado para a ópera em 1961.

O crescimento de uma ídola teen
Lali Espósito tem 20 anos e seu personagem Abigail em "Las brujas de Salem" representa sua primeira obra de teatro de texto. Ela trabalha desde seus 10 anos, Lali sempre participou de produtos de Cris Morena, como Chiquititas e Casi Ángeles. "Eu não posso acreditar no que está acontecendo comigo, de estar trabalhando com essas atrizes. Meu nome está entre Julia e Rita no cartaz e eu tenho vergonha. Quase que eu não posso acreditar. Desde muito jovem eu sigo Rita, sempre tenho o desejo de fazer pelo menos um quarto do que ela fez como atriz. Também sempre admirei muito Belloso e estar no palco com ele é muito importante" conta.

Apesar de ser uma figura de televisão, Lali fez um teste para entrar para o elenco desse obra. "Depois do casting eu entrei no carro e comecei a chorar, não podia acreditar. Era um choro de emoção. Marcou um antes e um depois para mim, não posso acreditar que todos esses atores colocaram esses olhos em mim”, diz.


Lali decidiu que Las brujas de Salem era uma maneira de gerar uma mudança de carreira. "Enquanto eu estava sempre muito feliz com todos os projetos que trabalhei, estavam de acordo com a minha idade e esse momento meu, sinto que foi o melhor lugar que poderia estar; mas o meu corpo estava pedindo outra coisa, parece uma frase armada, mas é real. Eu estava fazendo uma cena na novela que eu estava atuando ano passado (Cuando me sonreís) e tive a sensação de que algo estava faltando", explica.

Rita Cortese também trata de destacar o trabalho deste jovem talento. "Lali tem uma atitude fantástica para o trabalho e muita coragem. Ela está na frente do trabalho de uma forma que aos 20 anos é incomum, não é complacente, o que me fascina e diz algumas coisas sobre o trabalho, que muitos atores de grande trajetória não diz. Defende seu trabalho e o de todos. Por outro lado, enfrenta esse personagem que é muito difícil, na época que Alicia Bruzzo interpretou Abigail ela tinha 30 anos, e não 20. Assim, o desafio para ela é enorme"

Fonte: Tiempo Argentino/Teen Angels Amores

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